CÂMBIO
de Edilson Crawell
- Alô..."
- Oi mano, tô te ligando pra ouvir um conselho e trocar umas ideias.
- Chora, guri.
- Como Ce sabe, tô me separando. Q co C acha ?
- Seguinte, guri, eu acho que vais largar um problema e abraçar uma incógnita.
- Traduzindo: "largar um abacaxi e pegar um pepino, né" ? Em tese. Mas não é tão incógnita assim não.
- Como assim ?
- Já conheço ela; e conhecia muito bem a outra. Questão de psicologia.
- Desembrucha, vai.
- Negócio seguinte: cansei de empurrar trator na subida. Chega.
- E os vagõezinhos, como ficam ?
- Esses eu ainda vou carregar durante alguns anos; o problema mesmo era a carreta acoplada. No início parecia ser locomotiva, mas depois vi que era um vagão camuflado.
- Vixi, poizé. Coisas da vida, né. Então vais fazer um up grade de hardware, né ? Mas... e a nova locomotiva, conta aí, vai, como é.
- Bem, não é tão nova assim, nem zero bala. Motor 4 ponto zero, tração 4 x 4 pra todo terreno; mas pelo menos tá agregada.
- Se tá agregada, tá bem, pelo menos puxa na mesma direção. Só contribui.
- Com certeza. A outra era uma Gordini – não ia nem no tranco; o problema é que emperrou mesmo. E se soltasse ladeira abaixo, seria capaz de capotar.
- Nem no despenhadeiro ?
- Pega leve, né. Nem pensar. Isso seria crime. De mais a mais não sou tão mau caráter assim. Vou ter que pagar o pedágio. 20% de PA. É a Lei.
- E a nova aquisição, vem completa ?
-
.
- Pensa bem, guri, loira é muito visada por ladrão.
- É o risco. Melhor arriscar num filé que só ficar na certeza do osso.
- E se for picanha ?
- Nesse caso, tenho uma receita – um Engov antes, outro depois. E pé no fundo.
- Tem air bags ?
- E farol de milha, mano. Lâmpadas de xenon – azuizinhos. Máquina italiana é outro papo. É fera mesmo.
- Olha que pode ser uma onça...
- E daí ? Ainda que seja uma jaguatirica estarei no lucro. Essa só bebe. Aditivada.
- Hhhhmmm. E a ex ?
- Fumava. E emperrou. Era uma Gordini. O marcador ia de zero a cem em menos de sete segundos.
- Como assim? Era ligeira ?
- Não. Na balança. Cem quilos. Gordini mesmo. Mas o real problema ainda não era esse; o problema é que ao invés de tornar-se locomotiva, tornou-se um vagão; dia após dia – ano após ano. E empacou.
- Já pegou o certificado de propriedade ?
- Ainda não. Vamos esgotar primeiro a garantia, né. Depois a gente vai e registra em cartório.
- Poizé, é como eu sempre digo: – quem nasceu pra vagão nunca chega a alazão. Uma dica: escuta aquela música “O Medo da Chuva”, do Maluco Beleza. Ela diz tudo.
- Falô, depois te ligo e trocamos outras idéias. Até.
- Até. Câmbio.
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Essa cronica é engraçada.
Boa história, mas desinteressante.